A Lei
de Moisés permitia que o marido israelita repudiasse sua mulher , mas os
motivos pelos quais ele podia tomar tal deliberação tinha algumas
restrições:
As vítimas de violência sexual e o divórcio na Lei de Moisés
Na cultura judaica, a reputação arruinada
de uma virgem era pior que o estupro. O estuprador israelita era
obrigado a pagar o dote ao pai da vítima, o mesmo valor que ele
receberia quando ela se cassasse em cerimônia convencional, e depois de
casado dar-lhe a proteção do casamento sem a possibilidade de divórcio,
sendo obrigado a cuidar da vítima e das crianças resultantes dessa
união. A obrigação de casar-se com a vítima estuprada garantia a ela não
ficar solteira, rejeitada por não ter a virgindade, e também servia
como meio de desmotivar o sexo sem compromisso conjugal (Deuteronômio
22.19, 29; 24. 1-4).
Divórcio e novo casamento no Código Mosaico
Eram tidos como problemas graves na
sociedade israelita a mulher ser incapaz de gerar filhos, possuir
defeito físico, fluxo irregular de sangue durante a menstrução, proceder
descuidamente durante o período menstrual e no descuido outras pessoas
ter contato com o sangue. A pessoa que tivesse contato era considerada
cerimonialmente impura, o que impelia a todos a exigir cuidados
redobrados (Levíticos 15.19, 27).
Se um israelita casasse com uma mulher
com este perfil poderia assinar um documento de divórcio e mandá-la
embora´de casa. E se depois de divorciada essa mulher viesse a se casar
com outro israelita e neste segundo casamento ela ficasse viúva ou outra
vez ela se tornasse divorciada, o primeiro marido era impedido de
reatar laços matrimoniais com a ex-esposa.
Nestes casos, entre os judeus não era
errado a mulher casar outra vez. A mulher israelita divorciada de dois
maridos não tinha impedimento algum para casar-se novamente, desde que
não fosse com seu primeiro marido (Deuteronômio 24.1-2). O veto ao
primeiro marido era uma maneira de coibir aos homens agirem
impetuosamente contra suas esposas e de proteger a reputação das
mulheres, que poderia ser vista com alguém imoral e de más intenções.
Divórcio e novo casamento na perspectiva de Jesus
Sobre a questão do divórcio, o ensino de
Jesus está registrado em Mateus 5.31-32; Marcos 10.2-12; e Lucas 16.18.
Jesus reconheceu que em caso de adultério o divórcio possa ser uma
triste medida necessária em caso do cônjuge adúltero ter coração
endurecido e não se arrepender de sua infidelidade e manter-se infiel,
ou de a parte ofendida ter seu coração endurecido e não ser capaz de
perdoar o cônjuge adúltero que se arrependeu e se dispõe a voltar a
dedicar-se de maneira correta ao laço conjugal.
Jesus deixou claro reprovar a atitude
masculina de desprezar a mulher simplesmente por desagradá-lo, mostrou
que não era de acordo com a pouca proteção legal que tinham elas.
Lembrou aos judeus que o divórcio é contrário à vontade de Deus, sendo o
objetivo divino que o matrimônio perdure por toda a vida.
Aos rabís que procuraram Jesus
preocupados apenas com a letra da Lei, perguntando sobre divórcio e nova
casamento, disse-lhes: "Qualquer que repudiar sua mulher, exceto em
caso de relações sexuais ilícitas, a expóe a tornar-se adúltera, e
aquele que casar-se com a repudiada comete adultério" - Mateus 5.32. A
resposta esclarece a necessidade de se entender o propósito da Lei e o
plano original de Deus acerca do casamento para a raça humana: um homem e
uma mulher casados por toda a vida. A intenção do Senhor permanece
inalterada ao passar dos anos, não pode ser ignorada por circunstâncias
banais, como por exemplo um lapso quanto ao asseio físico individual
feminino, a doença, a infertilidade, o ronco durante a noite, o
envelhecimento (Lucas 16.16-18).
O divórcio e o novo casamento pela perspectiva do apóstolo Paulo
Paulo, em 1 Coríntios 6.18, abordando as
relações sexuais ilícitas nos faz entender que, espiritualmente, o
adultério não é um pecado pior do que outros. Porém, produz um bojo de
questões ao casamento que os outros pecados não produzem. Paulo
esclarece que os outros pecados não atingem o corpo da pessoa, enquanto a
prática da imoralidade sexual sim. Em suma, descrevendo isso no
vocabulário do século 21, a infidelidade conjugal além de ferir o
coração da pessoa traída, também a coloca em risco de contrair doenças
sexualmente transmissíveis, e porque é preciso cuidar do corpo como
templo do Espírito Santo, a pessoa vítima da infidelidade tem toda
liberdade de analisar a situação em que se encontra e divorciar-se se
considerar necessário.
Paulo tratou de outra situação em 1
Coríntios 7.15, quando um cônjuge crente é abandonado por outro, que é
descrente. Existem duas correntes interpretativas a respeito. A primeira
entende que se o cônjuge descrente simplesmente se afastar, o crente
deve permitir que vá embora. No caso dele voltar deve recebê-lo,
considerando o pacto matrimonial. O crente desprezado não deveria
casar-se outra vez. A segunda interpretação explica que o cônjuge
descrente é livre para ir embora, o cristão é livre para conceder-lhe o
divórcio e também para casar-se outra vez.
Conclusão
Deus concebeu o casamento como exemplo de
harmonia e interdependência. Assim como Cristo reúne muitos indivíduos
com personalidades e dons distintos como membros do Corpo de Cristo, que
formam a Igreja, o casamento combina duas pessoas num vínculo de
compromisso duradouro de fidelidade. A sentença "uma só carne" (Mateus
10.8) acentua a união sexual na intimidade da vida a dois, representa
também uma profunda fusão espiritual, à medida que duas pessoas unem
tempo, recursos, emoções, objetivos debaixo da mesmo teto (1 Coríntios
12.12-13; Efésios 5.21-33).
Por Eliseu Antonio Gomes http://belverede.blogspot.com.br
Este artigo é um complemento ao estudo da
Escola Bíblica Dominical (EBD) da Casa Publicadora das Assembleias de
Deus (CPAD). Se você quiser se aprofundar neste assunto e em outros da
bíblia sagrada, é só procurar uma igreja Assembleia de Deus no domingo
às 9h30.
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